A hipótese humana
“Tito deixa o sobrado e atravessa o largo, na direção da Candelária, onde tomará o bonde para o Largo do Rossio. Leva a primeira lambada na Rua do Sabão: um indivíduo surge de repente e aplica nele uma rasteira. O golpe lança Tito no meio da rua. Ele rola sobre o próprio corpo, de propósito, para ganhar espaço, enquanto puxa a navalha. Mas já está cercado: são agora quatro contra um (…).”
(Alberto Mussa)

Quando imaginou escrever, segundo o autor, lá por 1998, cinco romances policiais, um para cada século da história do Rio de Janeiro, A hipótese humana surgiu de modo embrionário. O autor já sabia que iria privilegiar a população escrava e os tipos de rua da cidade. A ideia concreta lhe ocorreu quando lembrou de um caso contado pela mãe.
O quarto romance do Compêndio Mítico do Rio de Janeiro, que dá lugar às ruas com sua violência, tem raízes antigas e dá a ela um caráter próprio, o de ser ao mesmo tempo cidade da malandragem, do adultério, da transgressão.
Tiros na noite e um crime - são misteriosas as circunstâncias que envolvem o assassinato de Domitila, filha do coronel Chico Eugênio, dentro da chácara da família no Catumbi.
A investigação fica a cargo do detetive Tito Gualberto, primo da vítima e hábil capoeira, que tentará completar o quebra-cabeça do crime. De tão real, a ficção de Mussa encontra sua crônica familiar numa ponta da história.
Os muitos suspeitos do crime vão sendo revelados aos poucos, levando o leitor num redemoinho que confunde, aprisiona e inquieta.
A hipótese humana é o quarto romance do Compêndio Mítico do Rio de Janeiro, série de romances policiais, um para cada século da história carioca, já composta por O trono da rainha Jinga, A primeira história do mundo e O senhor do lado esquerdo.
Embora sejam independentes, e possam ser lidos em qualquer ordem, os romances pertencem ao gênero policial de assunto histórico e apresentam um mistério ligado a algum mito, o que o torna incomum, segundo o autor.
Utilizando-se com primor da paisagem geográfica do Rio do século XIX e unindo mitologia indígena e africana para criar um cenário mítico tipicamente brasileiro, Alberto Mussa comprova a sua tese de que uma cidade não se define apenas pelo temperamento de seu povo ou pela sua cultura, mas pela história de seus crimes.