A vida mentirosa dos adultos
“Nem mesmo quem neste momento escreve, sabe se contém o fio certo de uma história ou se é apenas uma dor embaralhada, sem redenção.”

É um livro sobre como percebemos as mentiras na adolescência, como elas muitas vezes guardam verdades de adultos, que não necessariamente às nossas. E que teremos que reconstitui-las para elaborar a nossa própria identidade.
O livro conta a vida de Giovana, garota de classe média alta em Nápoles, sul da Itália. Filha de dois professores, ela é criada em redoma, até que vai mal na escola e ouve um comentário da qual fica intrigada. “Essa menina está cada vez parecida a sua tia Vittória”, um nome que até então era impronunciável.
Como é ser parecida com alguém não mencionada em casa? Quem é essa pessoa que tanto incomoda os seus pais? E, se é a família, por que não está conosco?
A menina sai a tentar amarrar essas tramas do passado tecendo por versões de meias verdades, contada por um e outro, simbolizada na narrativa por uma pulseira de ouro que passou de pai para filho.
A infância aqui é rompida à medida que descobre o passado dos pais, as traições, as histórias mal contadas entre eles. E outro mundo diferente do seu e das suas amigas-irmãs Ângela e Ida, cercado de pobreza e mistério.
A tia é uma mulher que não casou nem tem filhos, e, na versão do irmão, surge como uma figura quase mítica de tão odiosa: “uma mulher em que — eu o ouvira dizer desde sempre — feiura e maldade coincidiam perfeitamente”. “E eu sou isso?”, pergunta-se Giovana, quase certa da sua incivilidade. Instigada pela desconfiança da tia, ela passa a observar os pais sob uma nova lente, descobrindo fraquezas e contradições.
O pai escapou do bairro de infância e da pobreza por meio da educação, enquanto a tia personificou o lugar de onde veio. Giovana percebe nessa diferença de estrada de sotaques e barro ainda molhado a sua ancestralidade latente e será preciso superar narrativas dos adultos para compor a sua.
Livro: A vida mentirosa dos adultos
Autora: Eliana Ferrante
Ano: 2020 Editora: Intrínseca
Páginas: 432 páginas
Resenha: Catarina França