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“Nós só seremos felizes, ela diz então a si mesma, quando não precisarmos mais uns dos outros. Quando pudermos viver uma vida para nós mesmos, uma vida que nos pertença, que não tenha a ver com os outros. Quando formos livres.”

O livro poderia soar um clichê de uma ficha policial, mas soma. A história da babá que mata os filhos da patroa, em um clima de tormento mental vai além dos artifícios da maldade humana.

Entretanto a construções da história escrita por Leila Slimani se diferencia de um trailler qualquer, de modo que não hesitamos em dar um spoiler por aqui. Narrativa de quase todas as mães que enfrenta a maternidade em tempos modernos: aquela dividida entre casa, marido e trabalho.

Loise é a babá de pele branca que a coloca fora dos limites discriminatórios de raça e nacionalidade. É francesa, educada, embora imigrante, que a situa em um cenário com problema de pertencimento.

Como a dor humana é universal, não se pode negar a importância das lutas identitárias que corta o livro, embora não é aí que a autora chegar. Leïla fala de dilemas de um casal para cuidar dos filhos pequenos e as angústias da mãe encantada pela babá perfeita, mas que reluta deixar o casamento e uma carreira na advocacia.

A autora, ao esmiuçar o processo de degradação mental da babá Loise, chama atenção para a rejeição e as consequências dela.

Fazer parte de um seleto grupo que a sociedade inventa pode ser impossível mesmo para quem dela ocupa, mesmo para quem conhece os códigos apreciáveis. Aí há sempre um obstáculo impossível para transpor. São barreiras abstratas que não se nomeia com exatidão. E é exatamente pela imprecisão dessas regras secretas que não há como vencer.

Como cobrar uma taxa pela felicidade do outro? Ou como pagar um preço para ter a sua? Fica a impressão de que é impossível conciliar o amor materno que nos é incutido e o mercado de trabalho. Existe a competição e um desejo de liberdade que nos é naturalmente oferecido.

A contradição no relacionamento entre patroa e empregadas domésticas fica visível. E como cuidar dos filhos queridos com a baba indesejável, por mais que essa se mostre perfeita. E como fazer parte da família de outro sem ser mercadoria, no mundo da mais valia. Loise é nossa empregada, não é nossa amiga.


Livro: O filho de mil homens

Autor: Lilia Slimani

Editora: Tusquets

Páginas: 206

Resenha: Catarina França

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